ABANDONO
Lílian Maial
Não me venham com versos,
atenuantes,
ladainhas e perguntas sem sentido.
Nada de beleza,
candura, compreensão.
Hoje quero o ar poluído,
sufocar de fumaça meus olhos toscos,
tossir todos os senões do dia.
Quero que a lua apague,
que as estrelas fiquem caolhas
e que as horas se arrastem
feito choro engolido.
Quero a ausência de cor pelos cantos,
a frieza do telefone mudo,
o ônibus cheio de espaços sentados
e alguns de pé, saco!
Por agora jogaria a roleta russa,
tomaria um café irlandês
e me fecharia num baú de memórias.
Quem sabe não dormiria o sono dos justos
e acordaria ontem,
quando ainda havia algo de mim?
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