VENHA POEMA...
Venha poema...
Venha com as naus,
Das grandes navegações lusitanas,
Trazendo dos mares os bons ares e os maus,
Ao dia a abonança, à noite tormentas insanas,
Venha poema...
Venha no seu formato mais bruto,
Sem tanta rima, com pouca lógica,
Não muito longo, nem muito curto,
Seja em versos, seja em prosa,
Mas venha.
Venha como a inocente saudade, repentinamente!
Sem avisar, entre na casa, invada o quarto,
E me encontre sorrindo timidamente,
Para uma antiga foto três por quatro.
Ah, venha poema...
Venha como as chuvas de verão,
Tão aguardadas, como é para as noivas o maio,
Venha como uma triste oração,
Afastado, sozinho, calado.
Mas venha poema.
Venha como a lua minguante,
Faltando um pedaço,
Criando-me um olhar fascinante,
Como o da mãe, que embala o bebê nos braços,
Venha...
Seja como o arco-íris depois da chuva,
Um grande arco com sete belas faixas, colorida,
Mas depois seja como a noite escura,
Com o céu todo negro, minha cor preferida,
Seja poema.
Caia como uma lagrima despropositada,
Seja de alegria, seja de lamento,
Sem ligar se as coisas andam certas ou erradas,
Se faça presente em todo o momento,
Caia poema...
Tenha um aspecto de boa noticia,
Como famílias reunidas para um jantar,
Mas se assim não for, venha depreca,
Ao meu solitário dia se juntar,
Mas venha...
Venha poema,
Venha como o tempo que virá sobre todas as coisas,
Desmanchando os nós, curando as feridas,
Mostrando que um dia, sempre chega ao fim às estradas,
Mas que se tenha vivido plenamente,
Até que as escadas pra o céu nos sejam mostradas,
Venham escadas...
Demorem... Mas venham.