Sob um negro céu azul.
Hoje o céu deu em um bonito azul,
Um azul límpido, luzídio, sossegado.
Qual o perfume dos campos do sul,
Onde pastava, ao longe, o dócil gado.
Sol plácido de um dia de Domingo!
Os pássaros cantando no arvoredo,
O dia espontaneamente vai fluindo
E a vida, pouco a pouco, escorrendo.
Um azul etéreo, tão longe do mal.
Pulsante qual receio da escuridão,
Banindo das mentes o triste final,
Perseguido com ignóbil obsessão.
Este é o eixo que nos sustenta:
Em torno do azul refletindo paz,
A violência que nos movimenta
Fazendo da vida um bem fugaz,
Dominada pela força do açoite.
Para quem não encontra sossego,
Senão na imensidão da noite,
Onde impera, inabalável, o medo.
Essa noite que deu em negro,
Refletindo a mais pura realidade.
Revelando seu insondável segredo,
De que não há limites à crueldade.
Aquele que ao ver o casal indolente,
Passeando sob as estrelas cativos,
Admirando a lua imóbil, indiferente,
Como se dela eles fossem nativos,
Trocando carícias e doces beijos,
Da umidade agradável dos lábios,
Ouvindo os harmônicos solfejos,
Qual fossem os amantes mais sábios,
Reveste-se de sua sanha assassina!
Exalando o hálito fétido da morte,
Decidido a continuar na sua sina,
Dos enamorados decreta a sorte.
Resguardado na densa impunidade.
O que se ouve são os estampidos,
Ruído medonho da nossa realidade,
De sangue nos caminhos percorridos.
Ficam as lembranças que atropelam,
O imenso sentimento de descrença.
Nessa inércia de todos que velam,
Ocultando a sua fugaz indiferença.
Em aceitar a privação de uma vida,
Os sonhos roubados num segundo.
Andarão juntos, mãos dadas ainda,
Pela imensidão afora deste mundo...
Sem temer a noite com brutalidade!
Sem temer essa sociedade doente!
Sem temer a si mesmo, na verdade:
Sem temer o dia que virá novamente...
Brasília-DF, 25 de julho de 2010.