IRRELEVÂNCIA HUMANA
A solidão por completo acabaria,
Se não fosse os pobres poetas a declamá-la,
E a tristeza da mesma forma deixaria de existir,
Se todos, como os poetas, a pudessem discernir,
A alegria é alcançada por um imenso pavor,
Quando nasce a egoísta felicidade do amor,
A amizade dissimulada forja a sua amarra,
E dissemina sua contenda sobre a alma desarmada,
Revela-se mais tarde com receios inocentes,
E permeia o lençol com lágrimas negligentes,
A irrelevância humana se assiste,
Escorrendo pelo queixo emoção que não existe,
E com o tempo chega sobre si,
O peso do infortúnio que sempre há de vir,
Onde vermes e gusanos se deleitam,
Do mistério humano é que se alimentam,
A impaciência é o fruto proibido,
Negra cor por fora, com sabor de absinto,
E o corvo nesses galhos seu ninho guarda,
Nas sombras mais densas que lhe agrada,
Todos os seres de luz sejam do céu ou do inferno,
Voam pela planície atrás da árvore do mistério,
É só frustração que essa procura traz,
Tal árvore só floresce na imaginação dos mortais.