Altar
O altar impediu fosse imolada nossa paixão;
Protegeu-nos de nossos desejos.
A paixão só existe enquanto sombra:
É represa, desejo, distância, ilusão, futuro.
Os anseios são sonhos dos limites.
Só os mortos, essas sombras, são dignos de paixão.
Tentaria a qualquer custo sacrificar a paixão.
Cheguei a colocá-la no altar e preparar cutelo,
Com o qual pretendia matá-la.
Porém o altar ganhou vida
E a salvou do meu cutelo atrasado, fraco, covarde.
Ainda bem que sou mulher:
É mais fácil esconder-me nas sombras
Da fragilidade e da passividade.
Se eu fosse homem nunca me perdoaria.
As paixões precisam ser imoladas.
O cutelo que não fere a paixão,
Acaba ferindo o covarde.
Eternamente.