A SÊCA É A PESTE ?

Homens sujos e rasgados nas caatingas

crianças amarelas, barrigudas e feias.

Mulheres desgrenhadas, asquerosas, magras,

que trazem nos olhares um cansaço dolente

Cansaço que fere e que mata

a quem não tem água e nem fura um poço.

Chegaram à cidade os pobres coitados

tão sujos...tão magros...tão feios...

Retirantes!... Gritaram os donos da vila

Que invasão! Que barbaridade!

-Não temos comida, trabalho,

nem roupa velha. Estamos sem nada,

outra cidade mais rica,certamente

lhes darão de comer. Vão embora!

E lá se vão os pobres coitados

caminhando pela estrada mansamente

tão cansados... Aonde chegam são expulsos

Caras tão mal encaradas

não quero na minha fazenda!

As crianças tombam pelos caminhos

depois de comerem raiz de capim

ou o fruto do xiquexique.

Febre amarela e diarréia

nos velhos.Nos jovens,esperança!

Esperança de retirante!

É a água. Um oásis de paz

e abundancia. Com um milharal

imenso, um roçado de feijão

e melancia, além da mandioca.

Esperança de retirante!!!

É ter uma terra só sua

uma casa de barro, enxada

mulher barriguda e bruguelos

Peste dos sertões!

Quando chega a seca

os donos dos engenhos e fazendas

Fecham as porteiras.

Retirantes! É a peste...

A peste amarela.

Marcia Telma
Enviado por Marcia Telma em 22/07/2010
Reeditado em 28/03/2012
Código do texto: T2393957