Fátuo
*baseado no relato de um depressivo
Não há como escapar.
Às vezes quando mais preciso de mim
Ela chega.
Ele ou ela, não faz diferença.
A diferença real é que se apossa,
Como diria... assim.
O meu retrato,
Reflexo no espelho,
Não desconheço mais.
De tantas vezes ocorrido,
Esse brado oprimido
Se apossa de mim e
O que quer faz.
Chega! não luto.
A espera de mim
E esse luto
Sem razão de ser
Me fere por dentro
Procuro a chaga, não acho
Procuro razão, não mais me importa qual
Não. É o que digo sobre se achei.
O tempo passa
E as tarefas diárias ficam.
Ele passa rápido
E o preencho de nada,
Porque é nada o que me satisfaz.
Não vejo amigos,
Parentes ou quem quer que seja.
O dia de sol é só um reflexo
Do brilho, o qual por castigo,
Não sei de onde,
Perdeu-se, de mim, para sempre.
É o que sinto,
Seu real sentido
Nesse vácuo infinito
Crescente no meu eu.
Foram-me todas as idéias,
E o que restou delas
Não passa de medo,
Não passa de jeito,
De um modo, assim...
Especialmente sofrido de existir.
A existência, já que
Toquei nessa falência,
É só uma forma desprezível
De continuar compondo
A grande ópera do silêncio.
E o orgulho, ah...
Esse campeão mudo
De todas minhas batalhas internas.
Seduz-me pela indolente presença
De um suposto poder,
Existente,
E eu de certo crente,
Na eterna capacidade de reter
Alguma qualidade qualquer
Que não só me equilibre,
Mas me diferencie
Do que realmente sou,
Ou não sou.
Não. Em poucas vezes
Acordo com aquela leve presença
De alguma esperança terrena
De que um dia será a vida... melhor.
Basta ! no meu caminho cascalhos
São gigantescas pedras.
Amigos são falso indício de humanidade.
Carinho é mais um tipo idealizado.
Futuro, talvez as marcas expressas
Nos meus olhos te respondam melhor.
Amor, quem sabe um dia ainda por mim eu terei.
A vida, não sei.
A morte, algum dia.
Ausência, bem próxima.
Presença, em algum lugar.
Não sei onde,
Não sei quando,
Vou existir.