SOBREVIVENTE DO DESTINO
Eu já sei quais vão ser as minhas desculpas
Quando eu sair por ai
Tropeçando nos meus sofrimentos
Encarando o vazio de frente
Soprando fantasmas
Em de bolinhas de sabão.
O vento e o tempo
Quando passo por eles
Dou adeus
Eles nunca voltam
Eles sempre têm um caminho sem retorno
Triste de quem eu encontrar pela frente
Clamando justiça de certos alheios
Vou pegar a espada da fome
Levantar o meu roupão
E mostrar o quando minha barriga está vazia
Não de comida, ela, eu encontro nos lixos
Mas de amor, carinho, paz e compreensão
Essas fomes matam mais que Haiti
Mata a ti e mata a mim, sociedade
É dura a minha realidade
Imagino-me na marginalidade
De um mundo do meu pensamento
Que o vento passou correndo
Mas mesmo assim não levou
Deixando apenas desculpas
Para que eu continue aqui na penúria
Puta da vida com raiva da fama
De passeio alheio e ao relento
Exposto a tudo a fome e vento
Saio e procuro e o que encontro
Muros vazios, pneus em camas
Rampeiras, não, prostitutas sim
Afim de mim para matar sua fome
Deito com elas e outros mendigos
Bendigo amigos que me ensinam a viver
Da fome, da sede, da ânsia e gana
São armas usadas para sobreviver
O tempo não volta, e nos dar as costas
Seremos sempre estatísticas
De páginas policiais
Ou organogramas da desigualdade social
Ai sim passamos a fazer parte
De um noticiário nacional
De um programa de estudos
De recursos liberados
Que depois de certo tempo
Cai-se aos esquecimentos
E o que nos resta?
Voltarmos a ser o que somos
Sobreviventes do destino.