Visita
Você chegou
quando ninguém mais entraria,
quando as portas estavam fechadas
e as janelas eram apenas saídas.
Não tinha vinda prevista,
apenas apareceu,
já sabendo que um dia não mais estaria.
Qualquer casa abandonada
seria, aparentemente, melhor pouso
do que pouso algum,
porém você pensa diferente.
Sem um conforto sequer,
pulando de abismo em abismo,
sem nunca perder o sorriso
e nunca se acabar em qualquer lugar.
Somos todos, em maior ou menor escala,
efêmeros visitantes nesse mundo inteligível
e, como houve hora pra sua chegada,
haveria, também, hora da sua ida.
Sei, o mundo é muito mais vasto
do que alcançam os meus olhos.
Não cabe nos abraços dos meus braços
nem na extensão da minha casa.
O muito que te ofereço
ainda é muito pouco
e você não combina com a segurança
do meu quarto e da minha mobília.
Quando é chegada a hora,
tirar as pilhas do relógio
não faz a situação melhorar,
mas não vá embora ainda,
que vou lhe passar um café
quentinho, no jeito.
Enquanto esquenta o peito,
eu separo doces e guloseimas.
Se vai estar longe, que seja
muito bem alimentada.
Já me vejo no momento da sua partida.
Sério feito um defunto
e branco feito uma alma.