ACREDITANDO
Corri como se acreditasse que,
no fim do meu fôlego, encontraria tudo o que imaginara.
Como se não tivesse nunca antes visto dissolver-se
nos detalhes da proximidade, lentamente,
todo o fascínio da coisa imaginada á distância
- até sobrarem apenas as cruezas do insólito irreverente,
em que ninguém pensou.
Corri do jeito que sei correr, não apenas rumando a um ponto,
mas vagueando num improviso saboroso
que sempre foi, afinal, um caminho para lá.
E lá sempre foi o lugar de onde se avistava um outro mar,
ou uma outra montanha de um verde ainda mais noite,
por detrás da qual, afinal, um dourado ainda mais belo
falava de um por de sol ainda mais fantástico que esse,
e do que este, aqui pertinho de casa,
tão comum e tão sem graça, na sua magnificência,
tão insuficiente e banal na sua mesmice e constância,
que fez com que me lançasse um dia estrada afora,
procurando-lhe o seu expoente máximo
em algum outro lugar.
E as ondas, dos outros mares como as daqui,
perseguem-se umas ás outras, e todas rumo a mim,
como se também já soubessem, como hoje eu sei,
que só assim, vistas de longe,
aparentam aquela beleza nunca única,
capaz de desencadear os primeiros passos
de caminhos que também não são únicos,
mas apenas iguais a si mesmos...
Por isso corri assim.
E quando me olho e me vejo ainda correndo,
sinto que corro sem esforço, fácilmente,
e sei que sempre irei olhar detrás de cada nova montanha,
procurando sempre um novo e mais belo amanhecer.
E sei que nas ondas sempre irei procurar outras formas
de me dizer, em carícias que duram apenas um momento,
e em todas elas, serei eu.
E em todos os amanheceres, serei eu.
E em todos os passos procurando amanheceres, serei eu.
E em todos os caminhos por onde me espalhe em passos,
e em todos os horizontes por onde me espalhe em caminhos,
serei eu rumando a mim.
Correndo o meu tempo.
Acreditando que encontrarei tudo o que imagino.
Julho 2010