Mulher campesina
Mulher Campesina
Depois de anos passados revejo você, amiga
Pergunto pelas andanças que nesta vida travou
Contas que tens quatro filhos, que casou com o menino que já cedo namorou.
Que estão bem de saúde, compraram mais cinco alqueires e coisas mil que passou.
Eu fico agora pensando, as vezes que vi você,
Linda, de prenda vestida nos bailes do CTG.
Dançavas como menina, faceira bem feminina nos braços de teu peão
Que escolheu companheiro e ele hoje é faceiro por ser pai dos filhos teus.
Veja só que disparate a gente faz quando jovem
Eu deixando tudo isso, vim prá cidade morar.
Aqui sei exatamente o tamanho da tristeza
E hoje sou uma princesa sem país para reinar.
Estou só, não tenho filhos
Meu lar é vazio e quieto
Sem galinhas, sem cachorros, sem cavalos pra andar.
Para matar as saudades que sinto dos arvoredos
Tenho um pé de palmeirinha, na sala, para regar
Aí eu lembro o passado
Das traquinagens, das pipas, das bonequinhas de pano
Que as mãos de mães faziam
Pra gente poder brincar.
Enquanto hoje, amiga
Compro perfume importado
Você usa água de cheiro.
Minhas mãos estão repletas de anéis de puro brilhante
Tens anéis de faz de conta brilhando por entre os dedos
Que a lida da casa engrossou.
Mas no domingo, à tardinha, junta todas as vizinhas
Para um chimarrão tomar.
Eu nem sei quem mora ao lado e em vez de chimarrão
Tomo remédios senão não posso acalmar,
Do corre-corre do dia, da vida má da cidade, do assalto, fome
Maldade dos que os daqui são capaz
Em seu rosto vejo a amiga, que ficou na lida do campo
Que se esvaiu no trabalho destino melhor que o meu
Pois a maior das riquezas é ter consigo a certeza
De que estando no campo, se está mais perto de Deus!