Mulher campesina

Mulher Campesina

Depois de anos passados revejo você, amiga

Pergunto pelas andanças que nesta vida travou

Contas que tens quatro filhos, que casou com o menino que já cedo namorou.

Que estão bem de saúde, compraram mais cinco alqueires e coisas mil que passou.

Eu fico agora pensando, as vezes que vi você,

Linda, de prenda vestida nos bailes do CTG.

Dançavas como menina, faceira bem feminina nos braços de teu peão

Que escolheu companheiro e ele hoje é faceiro por ser pai dos filhos teus.

Veja só que disparate a gente faz quando jovem

Eu deixando tudo isso, vim prá cidade morar.

Aqui sei exatamente o tamanho da tristeza

E hoje sou uma princesa sem país para reinar.

Estou só, não tenho filhos

Meu lar é vazio e quieto

Sem galinhas, sem cachorros, sem cavalos pra andar.

Para matar as saudades que sinto dos arvoredos

Tenho um pé de palmeirinha, na sala, para regar

Aí eu lembro o passado

Das traquinagens, das pipas, das bonequinhas de pano

Que as mãos de mães faziam

Pra gente poder brincar.

Enquanto hoje, amiga

Compro perfume importado

Você usa água de cheiro.

Minhas mãos estão repletas de anéis de puro brilhante

Tens anéis de faz de conta brilhando por entre os dedos

Que a lida da casa engrossou.

Mas no domingo, à tardinha, junta todas as vizinhas

Para um chimarrão tomar.

Eu nem sei quem mora ao lado e em vez de chimarrão

Tomo remédios senão não posso acalmar,

Do corre-corre do dia, da vida má da cidade, do assalto, fome

Maldade dos que os daqui são capaz

Em seu rosto vejo a amiga, que ficou na lida do campo

Que se esvaiu no trabalho destino melhor que o meu

Pois a maior das riquezas é ter consigo a certeza

De que estando no campo, se está mais perto de Deus!

mirian schuck
Enviado por mirian schuck em 17/07/2010
Reeditado em 04/08/2010
Código do texto: T2382417