KOAN
Sou poeta e escrevo
mas confiar nas palavras
não devo.
Ilusórias, elas mentem
o presente. São apenas
memórias.
Bolhas de sabão,
assentem só a verdade
aparente.
Todo o mais fica no vão
das certezas
transitórias...
Um poeta quando fala
além das invocatórias,
nas estranhezas resvala...
Mais vale então o que eu calo,
aquilo que guardo comigo
pois as mentiras que digo
não me servem de regalo.
Tantos sentidos inscritos
em segredos não revelados...
Tantos versos já escritos,
tantos gritos sufocados!
Palavras, adornos pra enfeitar
o que não se pode desvelar.
Aquilo que não se diz
é aquilo que mais cala...
Tomo, então, um koan por diretriz:
para melhor falar, melhor silenciar.
Lina Meirelles
Rio, 15.07.10