O POETA E A CIDADE 23
O POETA E A CIDADE 23
Não mas canto o tédio,
Agora...
Tudo em mim é leve!
Até essa caminhada ao cais,
Até os olhares desses zumbis comissionados
Que como parasitas sugam e gozam de nós.
Desses que nos acenando dos prédios públicos,
Malditos operários do caos.
Da tua face fria e colorida,
Do teu corpo usado.
Das tuas palavras sem sentido,
Das ruas feias e com seus nomes de morto.
Desses cavalos pastando na praça.
Essa sobra de fim de feira.
Esse banco quebrado dentro da igreja.
Esse altar sem flores,
Agora...
Tudo em mim é leve!
Sem a culpa das coisas desfeita.
Sem as nódoas desse tempo em tédios.
Sem o rosto de todos os erros,
Sem o soluço do medo.
Sem o peso dessa cidade em minhas costas.
Sem sexo... Sem sexo!
Agora...
Tudo em mim é leve!
Esse fim de tarde.
Essas pessoas nas calçadas.
Essa cachaça.
Essa romaria.
Esse burro carregado de capim.
Essa fogueira de santo.
Esse andor florido.
Essa água fria.
Essa desviada cartola.
Essa festa profana.
Esse pombo preso.
Agora...
Tudo em mim é leve!