Um marciano em mim

Quero me enterrar no fundo de uma garrafa

Dormir lá o resto da noite inteira

Talvez nem saia mais

Fique pelo fundo vítreo de minha amargura

Adoce com álcool e sem vergonha

Amargue com amor e sem mulher

Beber, para esquecer

Beber, para lembrar

Beber apenas por beber

Por prazer, por tesão

Pois beber é a vida que me nego enquanto é dia

Que me vivo enquanto há chão

Talvez me enterre no fundo de mim mesmo

E diga para que ninguém ouça

Que os fantasmas de minhas dores

São sombras, raspas, pedras caídas

E ao olhar para o teto sombrio de nuvens

Veja saindo pela larga boca da garrafa em que me meti

Um outro homem que nunca esteve aqui

Lá ele pode ser sóbrio, assumir toda a desgraça que não quis

Não sou sóbrio, não quero esse mal para mim