Insulto a Fragonard II
Vejo corpos retorcidos
de banhistas a boiar numa tela.
Fragonard esteve aqui.
Essa vegetação não existe.
Essas mulheres não existem.
Engulam as tintas e os vernizes
com que me insultam essas transparências todas.
Carne, mucosas, adiposidades.
Um mundo estranho, de rosa sintético,
como aquele que vejo em minha volta,
sem acreditar que essa gente que escreve
com os punhos virados e mordendo a língua
é feita da mesma matéria que eu.