CELESTE

Sobre o chão de uma terra amaldiçoada,

Onde folhas enegrecidas caiam,

Em que pássaros anegrejados saiam,

Construíam minha solitária caminhada,

Não recordo que horas do dia seriam,

Eram nas mortas vias proibidas da BR,

Nas matas sombrias do Aurá,

À direita, a entrada bifurcada da BR,

E a frente as matas sombrias do Aurá.

Por muitas vezes caminhei por lá, apático,

Frio, tocando as castanheiras, amargurado;

Inflando ao peito um ar de gelo, do ártico;

E o peito como os Alpes montanhesco, congelado;

Mas o clima é outro no firmamento,

A garganta era seca onde a saliva não tem passagem,

O vento soprava-me quente, calmo, sonolento,

E não me movia, como se os olhos da medusa me fitassem.

Calado e compulsivamente eu ali chorava,

A idéia enleada era estarrecida,

A memória almejada era a esquecida,

As horas do dia passavam, mas não me encontrava,

(sim! Aproximava à hora do meio-dia!)

Não sabia se eram as entradas da BR,

(em suas mortas vias!)

Não reconheço os caminhos da BR,

Nem as matas sombrias do Aurá.

Meio-dia, quando o astro se encontra onipotente,

E a sombra se unindo ao pé, se faz amigo,

Quando assola as setas voadoras do inimigo,

Eis que vejo um formato ao longe diferente,

A presença de um ser disforme procurando abrigo,

Nela brilha um cordão de três esferas reluzentes,

Na mão tateando o solo de ferro um espigo.

Menos horrível é a face das penitencias em via cruzes,

Caminhando de joelhos grunhindo sons de ais,

(sombrios sons de ais!)

Desejo que desse pranto não chores nem uses,

Na carne em cortes as dores imortais,

Mais se fores lhe solicito não a recuses,

Enfrenta as horas que se mostram fatais,

Receba ao peito a porção das suas chuvas letais,

E em garras de pantera que traduz,

O temor das estórias ancestrais,

O ataque da pantera que traduz,

A paixão pelas estórias ancestrais.

Mais olhai íris que lacrimeja,

É um espectro que não existe, acredita!

São seres de outro mundo acredita!

Saiamos, deixemos aqui, tais imagens recônditas!

Durmamos pra que tais imagens não mais vejam!

Tremendo a alma já por muito aflita,

Suas forças pelo chão rastejam,

A esperança arrancada de forma sucinta,

Derrotados, pelo chão rastejam,

Tristemente como um cão, rastejam.

Digo, deixe-me memórias da infância!

Porque nas sombras tu te mostras postulado!

Por que me vens quando me sinto consolado?

Por que explodes minha alma com tamanha ressonância?

Pois a paz que tu me trás tem teu teor dissimulado!

Que nas horas de alegria me salta aos olhos a desconfiança,

Pois os anos que passam não me são solidários,

Camuflam tua presença na distância,

Atacando qual pantera, me tornando acuado,

Pois sua mão impugna, me cansa,

Sua força é eterna não cansa.

Abraço a alma qual criança fragilizada!

Bloqueando o medo para que não mais a assuste!

As lembranças os sonhos, para que não mais a assuste!

E que com a calma o mal se conserte;

Sentado ao meu lado surge uma lápida,

Indaguei: “de quem pertenceria tal lápida

E que dizeres fatídicos nela concerne”?

Eis que era: “Celeste”! Espanto-me: “Celeste”!

É o tumulo da amiga Celeste!

Sou tomado de tristeza repentina,

Onde folhas enegrecidas caiam,

Em que pássaros anegrejados saiam!

Solucei: “que horas da noite seria”?

Meus sonhos me trouxeram, pois sabiam,

Que aqui ela se mostraria!

E de mim não se perderia!

Que há anos seus sonhos daqui partiam!

E que o demônio agora me remete!

Agora sei, são as estradas mortas da BR,

Nas matas sombrias do Aurá,

Foi na estrada bifurcada da BR,

Em meio à floresta sombria do Aurá!

Tomb
Enviado por Tomb em 13/07/2010
Código do texto: T2375342
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