CAMINHOS DE MINAS
1. EVOCAÇÃO MARIANA
De seu olhar castanho,
casto e estranho,
brilha um eco
- sino de estanho –
e me acanho
diante de tua beleza:
boca vermelha,
framboesa;
destila o sal
de cada lágrima doce
de tua ausência.
Fosses ainda Maria
ou talvez Ana,
mas – quem diria –
És Mariana!
Arrebata minha devoção
e minha vocação
meu destino
é admirar distante
cada instante
de tua presença
doce e insana
plena e fugaz.
Amargo mar
de ondas planas
na presença de
Mariana.
2. BARBACENA
Morena cidade
vivida e cantada,
sob tuas barbas
quantas cenas !
Barbacena
Testemunha de loucos
e sonhadores
Tantas dores!
Barbacena
Nas cores do sangue
Incolor suor
De ombros suados
E roupas de couro
Quanto ouro!
Barbacena
Te enxergo
Nas cãs que lhe são caras
Na sua cara, branca
Barba, brancas cenas
Barbacena!
3. SÃO JOÃO
De longe
tange
nos solares
um sol amarelo
e frescos ares.
Te vejo
num lampejo
estalo de luz
em denso breu.
És chama
e chama
para uma liberdade
de varanda.
És quente,
corpo-presente,
mesmo assim,
do teu chão
ainda brotam Neves
de alva cor.
Já não é mais
apenas Del-Rey.
És nossa,
és santa,
mas plebéia!
Em suas ruas,
vivas artérias
contam nossa história
com cacos de ferros
e ouros de glória.
4. TIRADENTES
Tira o
ódio
Tira o
ópio
Tira o
óbvio
Tira a
gente
Tiradentes
Tira a
vida
Tira o
mau
Tira o
Inocente
Tiradentes
Tira a
paz
Tira a
vida
Tira a
dívida
Tiradentes
Tira pra
dar
Tira pra
conseguir
Uma Bandeira
Um Triângulo
de sangue
Um lema
presente
Põe a
corda
Põe o
nó
Tira a vida
Dê a
vida
mais urgente
Tiradentes
5. VILA RICA
Em cada rocha
fragmentos de um passado
cálido e calado...
Silêncio de senzalas
de cem almas
de mil almas...
Ressoa no ar como
o estampido
de um tiro no escuro.
Teus muros de carne
ossos e gente
- tanta gente! –
desabaram dia após dia.
Teu Ouro Preto
na verdade era o sangue
de tantos negros
arrancados de seus
pobres pelegos.
E na riqueza de poucos
a desgraça de tantos
e uma lágrima de ouro
se solidifica
clamando por ti
Vila Rica.
6. TIRADENTES II
Um adeus indeciso
vem de sua mão
trêmula.
Um andar indeciso
dobram seus joelhos
frágeis.
Um pensar, um aviso
vem de sua mente
nebulosa.
Um pequeno meio-sorriso
vem de sua boca
fechada.
Cada osso, teu pescoço
nossa vida,
futuro.
Nas tuas mãos trêmulas
sangue num Triângulo
que mesmo tardiamente
tremula.
7. CONGONHAS DO CAMPO
Em suas ruas
extensas vielas
cabem recordações
das mais doces
das mais belas.
Um sorriso meio triste
que cobre as calçadas:
dedo em riste
e mãos pesadas.
Não será fácil entender
que destas mãos sofridas
profetas e apóstolos
ganharam nova vida.
Pois no seu peito, aleijado,
bate um grande coração:
não de carne e sangue;
mas de pedra-sabão.
8. BELO HORIZONTE
Nas bordas das montanhas
em cada cume, em cada sopé
passeiam rostos com vincos,
corpos apressados...mãos e pés.
Nas curvas de tua lagoa
águas claras, clara visão
de uma hora boa;
um sino ainda ressoa
com suas dobras de ouro e bronze
Lugar onde dez vale onze...
Para onde vais,
onde caminhas?
Onde dantes eram minas
hoje existem cidades
onde dantes eram campos
hoje existem milhares
milhões
de habitantes.
Para onde vais amanhã?
Pois saibas que
as portas do teu amanhã
se abrem
nas janelas do ontem,
Belo Horizonte.