TEUS OLHOS
Procuras e não percebes
Que lado a lado estás,
És paralelo a si próprio,
Duplo em teu ser,
Ambíguo em si.
Infinita é tua missão:
Transcrever a orbe;
E nela navegas como um herói,
Confiante, como os prepotentes.
Descreves tudo que vê,
Minuciosa e pacientemente,
Como se fizesse parte
De tão lancinante e fugaz instante;
Como se habitasse as imagens
E superasse a luz.
O que dizer de ti,
Tão atraente e cativante?
Serás como as estrelas,
Passado e distante?
Em verdade o és;
Pois o brilho que de ti emana
É falso e seduz;
E tua realidade tão próxima,
Como as estrelas de ti.
Mas não te arrisque inutilmente.
Não excedas os limites do teu ego;
Pare e pense:
Como podes afirmar o que vê,
Se tua identidade é oculta
E não te autopercebes?
Como podes crer na vida,
Se nem sabes se existe?
Como podes ver o mundo,
Se nele não estás circunscrito?
Ou por acaso, alguma vez,
Já te vistes nele?
Agora, creia-me: tu nada vês.
Tua missão é falsa e infrutífera,
És sonhador e mentiroso,
Se é que existes!