A OUTRA

O rapaz decretou a sentença: quer que a moça seja diferente, ele a quer mais presente

Afirma que ela é distraída e muito polida

Quem sabe até muito sabida

Contraditoriamente divulga que ela é boba, e tantas vezes inocente

Que não sabe planejar e age mansamente

Grita que a moça é incoerente

E de todas as injúrias que ele profere

A menina não sabe mais o que é certo ou errado

Ela só queria ser mais. Mais o quê?! Qualquer coisa que o agradasse!

Mas nunca acertava

Já não sabia o que esse algoz desejava

O que ela deveria ser? Como ela deveria agir??

Quase caiu na armadilha de acreditar que tinha a obrigação de ser qualquer outra pessoa, menos ela mesma

Para satisfazer o opressor, deveria remodelar a sua própria natureza

E então a menina não seria mais ela mesma

Seria a outra,

A própria perfeição

Alma gêmea de muitas eras

Companheira que consente e sorri mesmo sem vontade

A mulher que nunca desce do salto

Todos os verdugos fantasiam essa criatura ilusória

Mas se para ter o menino por perto ela tivesse que ser outra pessoa

Ela preferia morrer em si mesma, dilacerando sua alma

Jamais desejou ser outra pessoa

E decidiu ser ela mesma

E então, nunca mais viu o menino

Janna Olliver
Enviado por Janna Olliver em 11/07/2010
Reeditado em 01/06/2017
Código do texto: T2372048
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