A OUTRA
O rapaz decretou a sentença: quer que a moça seja diferente, ele a quer mais presente
Afirma que ela é distraída e muito polida
Quem sabe até muito sabida
Contraditoriamente divulga que ela é boba, e tantas vezes inocente
Que não sabe planejar e age mansamente
Grita que a moça é incoerente
E de todas as injúrias que ele profere
A menina não sabe mais o que é certo ou errado
Ela só queria ser mais. Mais o quê?! Qualquer coisa que o agradasse!
Mas nunca acertava
Já não sabia o que esse algoz desejava
O que ela deveria ser? Como ela deveria agir??
Quase caiu na armadilha de acreditar que tinha a obrigação de ser qualquer outra pessoa, menos ela mesma
Para satisfazer o opressor, deveria remodelar a sua própria natureza
E então a menina não seria mais ela mesma
Seria a outra,
A própria perfeição
Alma gêmea de muitas eras
Companheira que consente e sorri mesmo sem vontade
A mulher que nunca desce do salto
Todos os verdugos fantasiam essa criatura ilusória
Mas se para ter o menino por perto ela tivesse que ser outra pessoa
Ela preferia morrer em si mesma, dilacerando sua alma
Jamais desejou ser outra pessoa
E decidiu ser ela mesma
E então, nunca mais viu o menino