o bar
tenho pensado izabel
trazer minha gente
lotar o porão
quebrar o barraco
fazer um bordel
sem pancadas nem nada
encher isto aqui de ar e risada
alguns vão estranhar no início
outros, convidarão a sentar
outros ainda, rarefeitos
por pura soberbice e defeito
vão fazer bico, fazer beiço
estufar a bunda e o peito
é assim que a vida move
assim se escreve a lenda
neste bar, quem chega
traz um pouco e um pouco leva
notícias e histórias da tenda
os dados à prosa boa
abrirão de bom grado
braços e o coração
são sujeitos de alma aberta
amigos de vinho e festa
de conversar, rir à toa
os sisudos tão sinistros
provavelmente continuarão sisudos
vá saber o que os move
vá entender o que se passa
o que os fez endurecer
entardecer a carapaça
deus ajude dia desses
sem que nem porque
acordem com os pássaros
assobiem primeiras notas
dêem primeiros passos
não deve ser à toa
que circulam por aqui
entre tanta gente boa
entre tanta boa gente
numa hora abrem portas
sem venenos de serpente
naquela mesa do canto
sentam sempre os silenciosos
pensantes, observadores
vez ou outra um se levanta
tem lá sua teoria
falando de guerra santa
fugindo de guerra fria
garante, silêncio não é apatia
veja do outro lado
veja aquele rapaz
e os senhores de gravata
aqui é que fazem folga
tomados de ousadia
cada um tem seu terreiro
bar cheio, programa não falta
não que seja algum puteiro
todos com muito respeito
em todas estas mesas, tanta gente
espalhadas bar afora
tem de tudo quanto é gosto
prá tudo quanto é hora
jogadores simpáticos, indulgentes
contadores bêbados
dançarinos sorridentes
saindo naquela porta
os fumantes, escondidos
fumam até alegria
dia e noite, noite e dia
e no balcão os mais afoitos
um é animador de bonecos
a outra publica revista
aquele é estronauta
aquela é diarista
a comprida é cozinheira
a de tranças é florista
construtores consultores
padeiros alquimistas
curandeiros professores
músicos escritores
roteiristas amadores
parteiros escafandristas
poetas de profissão
pastores sem reza e missa
artistas e criadores
conversa é que não falta
e se um assunto rareia
outro já entra em pauta
tem as horas de perder
opinião, estribeira
tem as horas de vir dono
reclamando a barulheira
aparece até soldado
tá por aí, lá no fundo
bebe em segredo, cuidado
mais um moderador descuidado
esse ninguém vê direito
é mágico em circo mambembe
encantaor de borboleta
e aqui é vagabundo
procure, só anda chapado
e assim passa o tempo
e assim o tempo passa
não aguenta beber, não bebe
mas se aguenta, absinto
cachaça, vinho, cerveja
e qualquer outro destilado
chame de pronto o calaça
se não estiver de bom papo
com o véio, outro freguês
declamando algum poema
elogiando de outra vez
vai te atender de bom grado
que é moço bom, bem tratado
por aqui cliente não pisa
sem sorriso, cumprimento
até parcerias já fez!