RETRATO

Retrato

Rosália Cristina

Sou uma trama trançada no caminho do teu ventre

Sou ligeira correnteza à beira de ser breve

Sangue suado minguado inerte

Escorrido na carne porosa de teus traços

Sujeito oblíquo de sereno achado

Ondulações rítmicas no corpo levado

Sou drama serrilhado pelos caos das fronteiras

Membro dual de constantes levezas

Sou minha névoa torcida no traçado do dedo

No vidro escuro do carro cinza

Sou atenuante aliteração de uma imagem real

Olhos úmidos que observam de cima.

Mera lua de prata em mulher formada

Sou o vento escondido de tua paisagem súbita

Trança torcida no traçado intento

Mescla de cores nas curvas das túnicas.

Sou canto prometido em vãos deleites

Derradeira tentativa no absurdo do leito

Sou assim, sem jeito

Presa, submersa ao que me diz respeito.

Infante madura conspiradora de mim mesma

Tecido leve em tuas onduladas pertinências

Grito empossado em teu peito

Pelo dorso que me tenta

Sou serena friagem no arrepio de teus poros

Fita distorcida de tuas tentativas

Sou eu atenuante sentido

Imagem minha, de mim mesma cativa.

Rosália Cristina
Enviado por Rosália Cristina em 11/07/2010
Reeditado em 11/07/2010
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