RETRATO
Retrato
Rosália Cristina
Sou uma trama trançada no caminho do teu ventre
Sou ligeira correnteza à beira de ser breve
Sangue suado minguado inerte
Escorrido na carne porosa de teus traços
Sujeito oblíquo de sereno achado
Ondulações rítmicas no corpo levado
Sou drama serrilhado pelos caos das fronteiras
Membro dual de constantes levezas
Sou minha névoa torcida no traçado do dedo
No vidro escuro do carro cinza
Sou atenuante aliteração de uma imagem real
Olhos úmidos que observam de cima.
Mera lua de prata em mulher formada
Sou o vento escondido de tua paisagem súbita
Trança torcida no traçado intento
Mescla de cores nas curvas das túnicas.
Sou canto prometido em vãos deleites
Derradeira tentativa no absurdo do leito
Sou assim, sem jeito
Presa, submersa ao que me diz respeito.
Infante madura conspiradora de mim mesma
Tecido leve em tuas onduladas pertinências
Grito empossado em teu peito
Pelo dorso que me tenta
Sou serena friagem no arrepio de teus poros
Fita distorcida de tuas tentativas
Sou eu atenuante sentido
Imagem minha, de mim mesma cativa.