Ausência

Estala escura e crua a noite

E no céu as tênues estrelas

Passam devagar, límpidas:

Meus sentimentos em aloite

Recubro minha rubra visão

Das lembranças incólumes

De teu seios em acumes:

Meus sentidos em abrasão

As noites nunca mais foram

Tão quentes e claras sem ti

Embora a tenha, amança,

Em minhas lembranças,

E não a tenha mais aqui

É certo que a amei um dia,

Embora não a ame, hoje,

Faz-se clara sua presença

Em figura pitoresca e amena

E suas lembranças

Não me esquecem

Nem me aquecem

Nas vis andanças

Em noite de frio

E estala a noite

E a lua passa por mim.

Em noite de céu límpido

É certo que deixe

De amá-la. Um dia...

Os dias nunca mais emergiram

Cálidos, sem ti: Dissulfiram!

Embora tenha, hoje, minha vida,

Hoje a senti em minha memória,

A protuberância de sua ausência.

É clara e estúpida a noite

Que passa fria e solitária

Rabiscando meus versos.

Sem ti: memória e açoite.

E estala a manhã e o som do vento

Passa por mim em ruído sereno

Em zumbido noturno e frio

Em tênue e suave canção.

Já a amei um dia, enfim.

Porém, não a amo mais.

Embora a sua presença

Anil, negra, vil e serena

Ainda faça parte de mim.

Eu resolvi compor estes frios versos

Em olhar tinidor, deslocado e no vazio

Enquanto estala a noite estúpida sem ti

Crua, sem céu, sem estrela, sem brilho

Mesmos que sejam as últimas

Palavras nuas que te escreva,

E a derradeira dor qu'eu sinta

Eu enfim a esquecerei, mormente

E sei que não deixará a abstinência

De pesar, sutil, sufocando a mente,

Ao prurido gemido inconsciente,

O fato inconteste: sua ausência

Alexander Herzog
Enviado por Alexander Herzog em 11/07/2010
Reeditado em 11/07/2010
Código do texto: T2370529
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