O Olhar
Seu olhar escorre por toda minha alma.
Logo pela manhã
Ao tino que me desperta
Vejo-a linda como sempre
Vagando em minhas lembranças.
Como não poderia percebê-la
Se mudam minhas vitais funções
Pela alegria que me presta sua presença.
Pressinto não entender o que me acontece.
Ecoar o sussurro de sua voz pelo meu âmago,
Que às vezes a aproveito
Para arranjar palavras
Numa frase por ti proferida,
Por mim esperada.
Temo nunca ouvi-la.
Esperar que a cada momento
O destino me avise a hora
De tê-la tão perto,
Temo que esta nunca chegue.
Porque seus olhos
São luas cheias em céu límpido
Onde tiritam os astros
Felizes por nos lerem aqui nestes versos.
Seus olhos de infinitude serena
Me aquecem a alma e ainda
Sinto que guardam minha tranqüilidade,
Vejo-os tão claros
Como sua própria personalidade.
Temo por nunca tê-la.
Como crer nisso sem que não fantasie
Nem um pouco sobre nós,
Sem que pense num universo lindo
Que nos guarda.
Talvez diga a mim: pobre de ti, poeta.
Talvez diga que eu esteja errado,
Que eu espere por outra,
Por outra oportunidade,
E não por você,
E não com você.
Como sufoca o amor de quem o teme falar.
Como é estrondosamente cáustica
A paixão impetuosa contida.
Como é difícil olhar para ti sem me declarar.
Não posso mais falar de amor,
Não neste verso.
Quero guardá-la sem dor,
Mas não nestes versos.
Quero viver com você
Um infinitésimo de tempo
Que me guarda a paixão
E poder beijá-la,
Tocar-lhe a mão
Sentir o seu cheiro
Acalentá-la e o sentimento.