O vôo do caldeireiro
(à memória de Beto Gonelli)
Florestas de metal brotando do estéril saibro
De uma dessas árvores foi que despencaste
Teu último vôo após o sensato abandono
Das drogas e da bebida
Lembro-te ainda, olhos estalados como ovos fritos
Enrolando um baseado na manhã gelada
O bom humor dos simples em piadas espirituosas
Mas onde estará agora o teu espírito
Depois da queda assassina que sofreste?
Teu corpo espatifou-se onde um galpão nascia
Onde quiçá uma fortuna surja
Foi a tua adversa sorte
E tua última notícia
Não buzinarás sorrindo novamente
Ao passar acelerado por alguma rua
De algum destino que eu por acaso tenha
O que uniste em metal na terra
É agora dissolvido pela ferrugem da morte
Como fumaça de solda que irrita os olhos
Fazendo com que chorem a noite inteira
Assim choro, Gilgamesh temeroso
De algum destino que eu por acaso tenha