.destino.
- vou te esperar.
isso foi o que ela disse a ele.
sem saber.
dos amores e dos sabores que a vida ainda iria lhe trazer.
- você não deve se prender a alguém como eu, querida.
isso foi o que ele disse a ela.
sabendo que não a amava.
imaginando tereza. isabela. madalena.
e as outras paixões ainda não conquistadas.
ela esperou.
ele não voltou.
outro por ela se apaixonou.
com conversas bonitas a conquistou.
casaram.
casa. comida. roupa lavada.
primeiro uma menina.
e tentaram de novo.
um menino dessa vez.
um casal.
e todo o amor com que sonhava se fez.
ele não pensava em voltar.
imaginava arrumar outra moça.
que ao menos não acordasse com ciúmes.
reclamando da hora que acabara de chegar.
de fato, deitou-se com muitas.
jurou amar algumas.
à noite as despia.
de dia, ia embora, sentindo nostalgia.
não sabia.
mas lembraria dela.
sobretudo nessas manhãs.
quando não havia ciúme.
quando não havia cobrança.
quando não havia reconciliação.
quando não havia ela.
com aquele turbilhão de emoção.
voltou.
a viu.
corou.
a espera havia sido prolongada.
e a esperança devastada.
ela, quando o viu, estremeceu.
quis correr para seus braços.
mas não obedeceu.
aos instintos.
ao passado que, como um flash, retrocedeu.
mas estava com outro.
casara com outro.
tinha filhos com outro.
passava seus dias se dedicando a outro.
deu apenas um breve sorriso insosso.
de longe arqueou a cabeça.
sentia carinho por ele.
talvez ainda o amasse.
mas o almoço ainda não estava pronto.
as crianças logo voltariam da escola.
beijaria seus filhos com dignidade.
e correria para o quarto.
trancaria a porta.
inundaria seus olhos.
viveria de saudade.
Ana Maria de Queiroz
08.VII.2010