O olhar de uma criança

“Vi a frustração no olhar daquela criança

Que só queria atenção”.

Não era bagunceira,

Na escola era elogiada,

Mas para sua família não era importante

E isso maltratava o seu coraçãozinho.

Pensei se era mal de idade

Ou se ela era de fato daquele jeito:

Quieta, organizada e silente.

Por vezes a observava

E percebia um brilho em seu olhar.

Enxergava a sua alma e essência

Por aquele por de olhos,

Que inconsciente, falava comigo.

Seus país eram ausentes,

Se separam quando era pequena.

Tinha apenas quatro aninhos.

Os viu brigar por diversas vezes,

Viu seu pai maltratar sua mãe.

Acordou um dia e seu pai havia viajado,

Foi em busca de um sonho.

Deixou para traz a casa que construiu com esforço,

Deixou também, sua mulher e seus 5 filhos.

Disseram às crianças que era o certo,

Que a vida naquela terra era difícil,

Que os dias de chuva passariam

E tão cedo o sol abriria o céu, tornando-o azul.

A mãe se mantinha firme,

Mostrava-se forte e guerreira.

Mas encontrava na noite um ombro para chorar.

A criança observadora ouvia os soluços

E assim que amanhecia perguntava à mãe:

“Por que você tava chorano mainha”,

Nervosa, ela gritava

E em alguns casos batia na criança.

A criança não entendia,

Sua mãe se estressava por coisas pequenas

E descontava suas raivas nela

E em seus irmãos.

Ela trabalhava na roça,

Na colheita de café.

Saia de casa com o coração na mão,

Pois os filhos ficavam sozinhos em casa.

O mais velho tinha oito anos,

O mais novo apena um .

A vida era torturante.

Os filhos pediam pão e ela não podia dar.

Pediam também, doces e brinquedos,

Mas aquilo lhe soava como xingamento,

Era uma facada em um coração já esfaqueado.

Num sábado as crianças acordaram.

O mais velho se levantou e não encontrou a mãe.

Estavam sós,

Estavam órfãos de pai e mãe ainda vivos.

Várias foram as reações,

Mas a daquela criança foi marcante,

Me chamou mais atenção.

Era apagado,

Quieto, desanimado.

Não via alegria em nada,

Não se misturava,

Não se deixava ter companhia,

Era só.

Durante anos observei essa criança

E se olhar em seus olhos

Apontarei com certeza, seus erros e acertos,

O mesmo farei com seus sentimentos.

A criança cresceu em corpo e espírito,

Mas manteve algumas características

Como a observação, a ingenuidade

E a verdade em seu olhar.

Olho essa criança no espelho e me assusto.

Tão pequena e já encarava a vida,

Essa verdade nua e crua a qual somos expostos.

Mas ela não escolheu ter uma vida assim,

Foi uma sina que carregou.

Foi a vida de um típico nordestino

Que comeu farinha em todas as refeições

E sonhava com o dia em que teria café da manha diferente.

Por isso, ele valoriza o que tem;

Por isso, luta por seus objetivos;

Por isso, tenta não ser impulsivo;

Por isso, pensa por si própria;

Por isso, se castiga quando erra;

“Busco com isso, não dar sequência ao ditado:

Os filhos são espelhos dos pais”

Dsoli