[Careço de um Fardo]
[- "...não sabe o que procura."
- "Procuro um fardo."
-"... Suporte o fardo. Do contrário não há mérito"
Dostoievsky, "Os Demônios"
Sou parte de uma fugaz máquina errante
que ainda há pouco passou pela estrada;
vibro, estou quente, e vige ainda em mim
a sensação do contato com o todo que foge.
Porém, se a máquina continuou sem mim,
então, ou bem o meu papel era inútil
e tudo que fiz não passou de ilusão,
ou então, outro já tomou o meu lugar.
Cá estou, largado na poeira da estrada,
demorando os meus sentires sobre o nada,
o sal das minhas lágrimas a secar-me na face...
Mas tenho ânsia — careço de um novo fardo!
[Impossível viver para sempre na crista da fantasia!]
[Penas do Desterro, 04 de julho de 2010]