Não é hora de escrever poesia...
Não é hora de escrever poesia,
o momento não permite.
Não há nada bonito
para se escrever.
Não é só de belas palavras
que o poema é feito,
é de sentimentos,
bons ou maus,
quentes ou frios.
Fria está a noite,
escuro está o que consome
a vontade de sair gritando
um cântico de estar vivo.
Sim! É o momento propício
para passar no papel
o que a boca não diz, não grita,
que grita,
contido, calado.
É hora de a poesia ser bonita,
deixe-a ser livre, não a segure,
faça-a gritar, sair correndo na chuva
como um louco.
Do mesmo modo que ela é.
Do mesmo modo de quem a escreve.
Do mesmo modo de quem a lê,
porque não entende ou não quer.
Quero que ninguém entenda.
E se por acaso,
(acaso, não gosto desta palavra,
de sua consequência;
coincidência, não gosto porque se faz triste;
destino, por mais que diga que não goste,
o persigo e o desejo.)
se, por acaso, alguém entender,
saberá que era hora de escrever,
a poesia que não era poesia.
O poema vivo,
que gritou, e chorou, e tentou
(mesmo não fazendo nenhuma destas coisas).
A hora em que a poesia emudeceu,
e sofreu por isso,
pois ninguém a ouviu.
O tempo agora é de terminar
este poema,
que ficou longo e cansativo.
Afinal, antes de tudo,
é um tempo perdido,
perdido no tempo,
mas não é perdido.
13/12/2009