Não é hora de escrever poesia...

Não é hora de escrever poesia,

o momento não permite.

Não há nada bonito

para se escrever.

Não é só de belas palavras

que o poema é feito,

é de sentimentos,

bons ou maus,

quentes ou frios.

Fria está a noite,

escuro está o que consome

a vontade de sair gritando

um cântico de estar vivo.

Sim! É o momento propício

para passar no papel

o que a boca não diz, não grita,

que grita,

contido, calado.

É hora de a poesia ser bonita,

deixe-a ser livre, não a segure,

faça-a gritar, sair correndo na chuva

como um louco.

Do mesmo modo que ela é.

Do mesmo modo de quem a escreve.

Do mesmo modo de quem a lê,

porque não entende ou não quer.

Quero que ninguém entenda.

E se por acaso,

(acaso, não gosto desta palavra,

de sua consequência;

coincidência, não gosto porque se faz triste;

destino, por mais que diga que não goste,

o persigo e o desejo.)

se, por acaso, alguém entender,

saberá que era hora de escrever,

a poesia que não era poesia.

O poema vivo,

que gritou, e chorou, e tentou

(mesmo não fazendo nenhuma destas coisas).

A hora em que a poesia emudeceu,

e sofreu por isso,

pois ninguém a ouviu.

O tempo agora é de terminar

este poema,

que ficou longo e cansativo.

Afinal, antes de tudo,

é um tempo perdido,

perdido no tempo,

mas não é perdido.

13/12/2009

Diego L Macedo
Enviado por Diego L Macedo em 01/07/2010
Reeditado em 10/05/2020
Código do texto: T2352934
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