PEDRO, E AGORA?
E agora, Pedro?
Acabou a festa,
Apagou a luz,
Sumiu o povo,
Esfriou a noite.
Pedro, e agora?
Pedro, e você?
Você que tem nome,
Os outros zombam de ti;
Versos, tentas fazer,
Já amou, protestou!
Pedro, e agora?
Mulher: não tem mais;
Já não sabe discursar...
Não tem mais carinho.
Estás a beber todas,
Só ainda não fuma...
Tenta cuspir...
Esfriou à noite,
Não veio o dia;
Já não sabe sorrir,
Vive de fantasia;
Acabou tudo,
Fugiu tudo,
Mofou tudo,
Pedro, e agora?
Pedro, Pedro...
Sem palavras doces,
Com febres contínuas,
Com fome, com sede;
Sem biblioteca,
Sem ouro,
Sem nada;
Incoerente,
Cheio de ódio – e agora?
Pedro, mas sem a chave na mão,
Tenta abrir a porta,
Esta já não existe mais;
No mar quer morrer
Secou-se o mar;
A Brasília, Salvador, Fortaleza quer ir,
Mas não tem como.
Pedro, e agora?
Grite, Pedro...
Geme, Pedro...
Toque, Pedro,
A valsa brasileira;
Dorme, Pedro,
Pedro: estás cansado;
Pedro: você deve morrer!
Nem morrer, Pedro, você pode;
Pedro, pedra és; és duro!
No escuro, sozinho,
Feito bicho do mato,
Não acredita nos deuses;
Nu, na parede,
Encosta-se;
No seu cavalo preto motorizado
Fuja, Pedro, fuja!
Pedro, você consegue!
Para onde, Pedro?
Setembro de 2005.
Inspirado em "José",
De Carlos Drummond de Andrade,
O Grande Poeta Mineiro.