SANGUE DE CRIANÇA
Um mar de sangue escorre da favela
E o tiroteio já não causa pânico.
Já virou notícia corriqueira...
Rotina que não atrapalha a vida
De quem vê a vida pela televisão.
Onde está a polícia?
Quem é o ladrão?
Existem vários espalhados por aí:
O fardado, o esfarrapado, o engravatado...
Eu chego a me sentir otário
E me pergunto: de quem é a culpa?
Escute o clamor desse sangue!
É sangue de criança escorrendo...
Que morreu de bala perdida,
De fome, de abandono,
De doença preconceitualmente transmitida!
Quem vai calar o grito que ecoa em mim?
Minhas falas são cortadas por tiros traçantes
E minha dor parece não ter fim.
Meu coração é uma favela que foi povoada por amantes;
Meu coração é uma pedra de gelo seco
Que queima a pele e transforma todo amor
Em medo, dor e solidão!
E mais uma criança morreu...
De insuficiência de solidariedade!