O Nada de Sempre
Vamos falar sobre o nada
O nada que nunca se acaba
Aonde você vai lá está o nada
Inteiro soberbo ocupando tudo
Que se possa
Desde o raiar do sol
Na madrugada mais plena
Até o derradeiro suspiro
O nada cabe na palma de sua mão
Na ponta de sua língua
No meio de suas pernas
A respiração do nada
Simula-se no vício das horas
Um poeta amigo
Disse-me que o nada
É a farsa mais verdadeira
Da extinção humana
A terra é o ventre de todo
Palavrório do nada
Há nadas metrôs
Nadas espetáculos
Nadas políticos
Nadas qualquer coisa
Na palma de minha mão
Esconde-se o nada de mim
Com gosto de mel e sangue
Esperma e esperança
E transmito aos meus filhos
O absoluto de um dia
Eu não ser nada mesmo
Apenas uma memória soprada
No vento de uma madrugada
De sol raiando e pássaros sinfônicos
Ou de um samba que pensei
Em escrever e deixei para depois
E se perdeu no nada do meu
Cotidiano urbano e caótico...