INTROMISSÃO

você veio vindo,

de mansinho,

de mansinho...

tomou minhas mãos

e me beijou a face.

provou o gosto do meu hálito,

virou mula-sem-cabeça,

cobra-de-vidro;

rastejou aos meus pés

e bateu em minha janela,

fora do horário comercial.

rodopiou,

dançou,

fez pirueta,

subiu nos meus joelhos

e censurou da minha timidez.

cantou música de roberto carlos,

suspendeu a barra do vestido,

pintou os diabos

e ainda me possuiu,

feito um espírito maluco,

na noite de minha insônia.

depois, num crepúsculo vermelho,

cheia de rouquidão

e sem dar motivos,

você foi indo, como um pássaro,

deixando só a casca do alpiste

que não servia mais prá nada.