Qual a cor da tua vida, poeta?
Parte I
Minha infância foi bege abstrata
Cor de areia - castelos na praia
Sem papai aos dois anos de idade
Sem roupas novas, brinquedos
Sem pedir doces ou sapatos
Sem dinheiro pro lanche da escola
Sem festas de aniversários...
E como areia - meu sonho voava!
Minha adolescência, negra ou parda?
Padrasto alcoólatra, vil e carrasco
Mamãe submissa, fraca e coitada
Apanhava e insistia no triste fiasco
Da geladeira vazia ao aluguel atrasado
Da dignidade estilhaçada ao sonho roubado.
E como noite cansada - quis um dia ensolarado!
Busquei trabalho aos quatorze anos de idade
Entreguei panfletos nas ruas e esquinas
Fui cabo eleitoral e secretária de dentista
Jurei enfrentar meus soluços e derrotar meu submundo:
- Nunca serei puta, desonesta ou submissa!
E com lágrimas nos olhos decidi mudar de vida!
(Continua...)