[Esquinas Onde te Perdi - Inacabado]
[O poeta estava errado:
depois de ter perder,
eu não te encontro em tempo algum...]
Esquinas, quantas esquinas...
e não posso te dizer... não posso —,
para o meu desespero,
para aumentar a minha dor —,
te dizer onde, na confusão
dos meus sentimentos errados,
eu te perdi... te deixei ir...
Agora, é tempo de choro sufocado...
E a nossa vida se acabou assim:
tu não me tens e choras, e lamentas...
Eu não te tenho, e lamento, e choro...
Juntos, pusemos tudo a perder.
[E para meu maior horror de viver,
as marcas do amor são fundas...
nunca, nunca me esquecerei
daqueles instantes em que, sorrindo,
te amei tão profundamente,
como jamais sonhei ser possível!]
Estou desgraçado para sempre;
essas marcas me queimam por dentro...
Para sempre estarei olhando
a tua figura no vazio do espaço
cheio de gente que só me aturde.
Dias há em que vou pelas ruas...
os vidros escuros do carro fechados,
vou chorando baixo, soluçando baixinho,
até que a dor se amenize um pouco,
num gole de uma qualquer bebida...
E sigo por essas ruas... vou a lugares
onde estivemos — busco uma catarse
que sei ser impossível: uma claridade
para o meu olhar neblinado!
Aqueles dias são agora um sonho
que bateu asas por sobre os escombros
da construção de nossas vidas!
Passou o amor, esmaeceu-se o desejo, a sede?
Então, que vibração é esta a percorrer-me as veias,
e a me confirmar que és a única, a definitiva?
Repito: eu sei que estou desgraçado!
[Penas do Desterro, 21 de junho de 2010]