Caminhar sobre nuvens.
Queria alguém para partilhar sonhos( ainda que
pequenos);alguém para ousar caminhar sobre nuvens
e fazer corda bamba na espuma do mar.
Queria alguém para calar seu espírito ansioso
com gestos de conforto; alguém para partilhar da
alma em festa ( dançando sob o luar).
Queria alguém para cantar em silêncio, olhos
nos mirantes da alma, mãos nas mãos, silêncio e
paz.
Queria alguém ( que se real) está distante dos
olhos e do talvez coração.
Cadê esse alguém que se existe não surge, não
reata/resgata a vida rota,rasgada,jogada á própria
sorte(?), brinquedo de folhas ao vento/ brisa que joga
e torna a espalhar cacos/traços/trapos de vida ao ar?
Queria resgatar a vida da aflição de naufragar em
cada praia que a alma aporta/aponta e se desaponta,
em ilhas ou cais, enseadas ou oceanos,baía ou mar.
Queria alguém para colar os resquícios e torna-los
em uma outra peça. Quem sabe mais nobre e translúcida,
suprimindo as lascas/cascas ruins e dando nova vida,nova
luz, novo destino.
Queria da vida...
... a vida.
Queria a vida emoldurada em mais cor, menos dor,
mais sons, menos ruídos, mais passos, menos tropeços,
mais sorrisos, menos légrimas, mais silêncio, menos críticas
por querer ser pouco e acabar não sendo absolutamente nada.
Queria da vida, a vida com calor de sol, rubor de amor,
pressão de lábios nos lábios, toques de dedos arrepiando
a pele, sussuros de amor embriagando o corpo e delirando
a alma, fatos/atos/tatos e olfatos á postos.
Queria o cabelo emaranhado pelo vento que desalinha os
pensamentos, qual pipa largada pelo colorido céu.
Queria não guardar baú de saudades, mas porta jóias de
emoções.
Queria ter o potencial de uma constelação, sobrevivendo
com brilho as tempestades celestes.
Queria ter mudado o que sofreu, não ter se deixado ficar
tão só em si mesma, encapsulada em seu mundo particular,
mexendo e remexendo/remoendo o caldeirão da alma.
Queria da vida... ser feliz.
Márcia Barcelos.
25/10/1994.