O ÚLTIMO GOLPE
Foi expulso da terra
Aquele que não quer seguir a boiada
(boiada essa hegemônica e unida)
Que pensa um mesmo pensamento
Como se fosse um transe coletivo
Boiada que trava a circulação
Do livre pensamento
Anárquico, culto, pragmático ou erudito
Que tem gosto doce, salgado ou Saramago
(isto é, amargo)...
Mais uma vez foi expulso
Porque no mundo da Literatura
A crítica é dura e fria
Insensível, oposto da poesia
E lá está ele novamente
Abismado em sua solidão
Perguntando-se o que mais lhe acontecerá
Até que o relógio bata a meia-noite
E os sonhos se desencantem
Expulsaram do mundo a coragem
Em forma de língua afiada e destemida
Que fala contra Deus, mas se prende ao amor
Combate o reacionismo com a inteligência
E tão poucos conseguem alcançar
A grandiosidade e cultura de sua interferência
Metaforicamente falando contra
Para enaltecer quem se defende sozinho
Desde o princípio até eternamente...
Na comunidade, se faz revolucionário
Num utópico bloco esquerdista
Onde questiona as formas de cultura
Inquire a ditadura da direita hipocrisia
Pois essa ninguém mais atura
Disfarçada de lei do amor e da poesia
Expulsaram novamente...
Mas não eternamente
Pois seus traços estão no meio de nós
E não há ponta, ponto ou ponte
Que nos aponte outra direção
A morte pode calar essa voz
Mas seu sonho de transformar o mundo
Ainda está sendo gestado como um filho...