CONCEPÇÃO E PARTO

É preciso coragem para o enfrentamento

de fundo de poço, água pela garganta.

Sobreviver, nadar, espermatozóide

concebendo vida e morte.

Nada de ejaculação precoce.

Do confessionário íntimo,

no seu mais fundo mergulho,

nascerá o poema.

Sujinho de sangue, flor no rosto,

olhos semi-abertos, boca no mundo.

Após, sem medo, vida em pequenos goles,

a precisa cirurgia.

Desabrochará, nua, esquálida, a palavra.

Insólita e medrosa.

Pétala de flor, gume afiado.

Necessário se abram portas e janelas

pra mostrar a casa ao mundo.

Que os poemas não sejam somente

exercícios tímidos de forma,

mesmo que criativos.

Algo como chorar o verso com Poesia,

expelí-lo, orgasmo sofrido.

Levai fé no talento, suor e sangue.

– Do livro OVO DE COLOMBO. Porto Alegre: Alcance, 2005, p. 20.

http://www.recantodasletras.com.br/poesias/23275