FADA - MADRINHA

A fonte do poema nunca é a alegria.

Esta é a própria poesia personificada,

a fada-madrinha viva, resoluta, saltitante:

o olho além da órbita, dentes além da boca.

Afinal, recados pro coração são sempre lágrimas

entre o confrangimento e o sorriso encabulado.

Poemas são, apenas, olhos do coração,

e ambos são chorões por sua própria natureza.

O sangue, líquido e escondidinho,

navega por caminhos impensáveis.

Passeia no compasso dos afetos.

Em ti e contigo, amadinha,

existe uma confidência

a que não estou acostumado:

sei que falas a voz profunda

dos aflitos, mas não a dos sem-Deus,

e estes são pequenos,

perderam-se faz muito tempo...

- Do livro OVO DE COLOMBO. Porto Alegre: Alcance, 2005, p.24.

http://www.recantodasletras.com.br/poesias/23271