NO LAPSO  DE   UM 

PROLONGADO  SEGUNDO






Estou muda e quieta
nesta manhã de estranhos frios
habitantes de cômodos esquecidos
lançando suas vozes e sussurros
escada abaixo...
Escorrem pelas paredes lágrimas
de amores perdidos e
sobre a mesa flores murchas, poeira...
Sob as pálpebras, olhos perplexos
tentam não ver a luz baça
de um dia ilusório.
Um dia é quanto
de nossas vidas,
um dia!
Lento despertar...
a casa está tão quieta...
trava nas portas, trava nos dentes,
a alma fugiu pelo ralo, foi-se
debaixo de chuva e ausência tua.
Aprisionaram-me as palavras
que lancei ao vento, pois voltaram
com a ternura de uma resposta inesperada
e quando foste embora, só restaram os grilhões
as cadeias a me deixar imóvel nesta sala
neste momento intraduzível
neste infinito segundo dilatado no Tempo:
caio neste precipício, neste lapso,
entrego a alma a tal demônio inclemente
cujas garras me apertam a garganta
ferem-me as mãos;
ele zomba de mim, escarnece desta dor
caio ainda mais fundo...
ah, quem sabe nem volte...
quisera eu...
queda livre
no vale das angústias
parasse o Tempo
definitivamente...
e eu nunca mais voltasse!
... caio ainda mais fundo...
Enfim, extenuada, entregue,
pés em ponta para este mergulho
de flecha zunindo espaço afora
ferindo as mãos,
eu cavo o chão  do mundo;
queda livre,
viagem sem direção
neste prolongado
e fatal...

... SEGUNDO !...
tania orsi vargas
Enviado por tania orsi vargas em 16/06/2010
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