GAIOLA DOURADA
Aquela prisão não lhe cabia
Sabiá Biá sabia que viveria
Pra um dia acontecer
De se libertar
De fora pra dentro
De dentro pra fora
Ela a toda hora queria
Mas ao mesmo tempo temia
Soltar as amarras
Romper as grades da prisão
Aquela prisão não lhe saía
Sabiá Biá sabia e tremia
Porque queria e temia
Que não pudesse suportar
A liberdade que não conhecia
E ao ver o horizonte ao longe
E não sabendo o que fazer
Solta na amplidão
Sentisse falta
Da falsa segurança do grilhão
E pedisse para que lhe cortassem as asas
Para não ter que voar
E pedisse para que lhe furassem os olhos
Pra não ter que ver
O que há além dos muros da prisão
Que tanto a fascina e apavora
Aquela prisão não lhe valia
Sabiá Biá sabia e doía
Que depois ia voltar
Derrotada para a gaiola dourada
Onde não corre riscos
Não precisa lutar pelo alpiste
Mas também não prova dos petiscos
Onde pode cantar sem temor
Um canto triste
Sem alegria
Sem amor
Aquela prisão não lhe batia
Sabiá Biá sabia e fervia
De vontade de arriscar
Mas continuava ali
Presa ao chão
Inerte
Sem vontade de viver
Sem coragem para morrer
Inventando um tempo muito além
Para mudar
No sonho projetado na cabeça
Sempre adiado
Impedido de se concretizar.
Aquela prisão não lhe pertencia
Sabiá Biá sabia e estremecia
De contente
Pois achara um estímulo
Um motivo para ir em frente
Pra vencer a inércia,
Expulsar o marasmo
Com entusiasmo e decisão
Romper de vez as grades da prisão
E seguir na direção do sol
De um novo dia.
Sabiá Biá sabia.