GAIOLA DOURADA

Aquela prisão não lhe cabia

Sabiá Biá sabia que viveria

Pra um dia acontecer

De se libertar

De fora pra dentro

De dentro pra fora

Ela a toda hora queria

Mas ao mesmo tempo temia

Soltar as amarras

Romper as grades da prisão

Aquela prisão não lhe saía

Sabiá Biá sabia e tremia

Porque queria e temia

Que não pudesse suportar

A liberdade que não conhecia

E ao ver o horizonte ao longe

E não sabendo o que fazer

Solta na amplidão

Sentisse falta

Da falsa segurança do grilhão

E pedisse para que lhe cortassem as asas

Para não ter que voar

E pedisse para que lhe furassem os olhos

Pra não ter que ver

O que há além dos muros da prisão

Que tanto a fascina e apavora

Aquela prisão não lhe valia

Sabiá Biá sabia e doía

Que depois ia voltar

Derrotada para a gaiola dourada

Onde não corre riscos

Não precisa lutar pelo alpiste

Mas também não prova dos petiscos

Onde pode cantar sem temor

Um canto triste

Sem alegria

Sem amor

Aquela prisão não lhe batia

Sabiá Biá sabia e fervia

De vontade de arriscar

Mas continuava ali

Presa ao chão

Inerte

Sem vontade de viver

Sem coragem para morrer

Inventando um tempo muito além

Para mudar

No sonho projetado na cabeça

Sempre adiado

Impedido de se concretizar.

Aquela prisão não lhe pertencia

Sabiá Biá sabia e estremecia

De contente

Pois achara um estímulo

Um motivo para ir em frente

Pra vencer a inércia,

Expulsar o marasmo

Com entusiasmo e decisão

Romper de vez as grades da prisão

E seguir na direção do sol

De um novo dia.

Sabiá Biá sabia.

Alena Ajira
Enviado por Alena Ajira em 16/06/2010
Reeditado em 24/06/2015
Código do texto: T2322528
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.