SOLIDÃO ESQUIZOFRÊNICA
Não sei o que me dá na cabeça e me faz malucar
Não sei o que me dá, que me fere o peito e me faz chorar
Não sei o que me dá, que me enche os ouvidos e me faz assustar
Não sei o que me dá, que me cerra os olhos e me faz gritar
Não sei o que me dá, que me traz à mente e me faz recordar
Não sei o que me dá, que me deixa inquieto e me faz agitar
Não sei o que me dá, que me desacata e me faz agredir
Não sei o que me dá no pensamento e me faz imaginar
Não sei quem me busca e me faz recusar
Não sei quem me quer, quem eu queira
Não sei da razão, a razão que se afasta do agressor e do humano
Não sei o que me dá quando calo e desejo falar
Não sei o que me dá na revolta e me deixa odiado
Não sei o que me dá, quando anoitece e dentro de mim amanhece
Não sei o que me dá, quando me amam e dentro de mim sinto o vazio de sentimento
Não sei o que houve anteontem, que hoje não houve, só dentro de mim a vontade do bem que tive
Não sei o que houve no tempo, transformando as coisas, embelezando ainda mais a natureza, que revolucionou, desmoronou, e em mim nada mudou; o tempo parece conter-se em mim
NÃO SEI O QUE ME DÁ!
Uma quase paródia desta linda canção O QUE SERÁ (A FLOR DA TERRA) cantada por Chico Buarque, mas numa bela interpretação também do Milton Nascimento. Minha humlde homenagem aos dois monstros sagrados da MPB.
*Poema escrito em 1989 publicado no meu segundo livro, Livre versos livre, de 1989.