Auto_Retrato
Claro que posso descrever-me...
Basta olhar para os céus
E verei meu íntimo.
Sou o completo azul, que a princípio não passa de uma linda cor,
Mas que guarda os incessantes fenômenos.
De dia me faço de intenso clarão,
A noite, me refaço em pequenos pontos de luz,
Que de quanto mais perto, mais calor irradia,
Aferindo as mais contidas emoções,
Os eternos amores,
Os indeléveis momentos.
Me farei assim, quem sabe, de potestade,
Disperso de saudades,
Mantido em pontes interligadas
Entre o passado e por vir.
Esse sou eu...
O imaginário cantor,
Que reescreve sua música a cada mazela transcorrida,
Quem sabe a própria canção
Feita em alguns borrões
E niveladas com uma melódica sinfonia.
Uma hialóssoma alma com seus obscuros segredos,
Partindo como um favônio vento
E ressurgindo a cada aurora no brilho do sol
E no farfalhar da brisa matutina sobre os verdes arbustos do campo,
E como todo vento, liberto de tudo, até mesmo das coisas abstratas,
Um dia aqui, outro ali;
Hoje na lua,
Amanhã, quem sabe, em algum pusilânime coração,
Acorrentado.
E se me perguntarem onde se encontra minha prisão,
Responderei sem êxito algum:
Na imensidão do infinito!