maio

Em maio

os ventos de uma flor

batem nas pálpebras

e cresce o brilho dos olhos

suave e selvagem

caravelas de brasa

fustigando a pele do mar,

dos rios, das pontes.

queimando à boca pura

tragando a sede que não se mata.

maio

guirlanda de pássaros

pendurada em portas suspensas

azul selvagem, céu cilício

punhal trêmulo submetido à lua

rede de cílios acalentando hálito

me pergunto: em que silêncio estou?

em que dizer caminho?

como uma cigana suave

lê a própria mão

inutilmente,

e vê os fios desencapados

chicoteando os ares

lambendo estrelas no sonho do mundo.

Não entendo maio.

É arduo e o tato arde.

Terra trançada de fogo e faro.

Alessandra Espínola
Enviado por Alessandra Espínola em 11/06/2010
Reeditado em 11/06/2010
Código do texto: T2313620