maio
Em maio
os ventos de uma flor
batem nas pálpebras
e cresce o brilho dos olhos
suave e selvagem
caravelas de brasa
fustigando a pele do mar,
dos rios, das pontes.
queimando à boca pura
tragando a sede que não se mata.
maio
guirlanda de pássaros
pendurada em portas suspensas
azul selvagem, céu cilício
punhal trêmulo submetido à lua
rede de cílios acalentando hálito
me pergunto: em que silêncio estou?
em que dizer caminho?
como uma cigana suave
lê a própria mão
inutilmente,
e vê os fios desencapados
chicoteando os ares
lambendo estrelas no sonho do mundo.
Não entendo maio.
É arduo e o tato arde.
Terra trançada de fogo e faro.