Dois mundos
Com ele me deito e levanto.
Sou para ele a mulher mais perfeita.
Vejo todas a vezes com espanto
Os defeitos que em mim ele aceita.
Nasce todos os dias em mim como um sol
E a noite para ele eu sou lua.
Na cama me põe e retira o lençol.
Do meu corpo a roupa e sou sua.
Mas com ele já sou diferente.
O seu jeito me envolve e me encanta.
Não sou eu é meu peito que sente
A vontade dele que é tanta.
Quando ele me chega, o meu corpo padece
Nas loucuras de amor que lhe faço
E pedindo a mim mesma: esquece!
Mas sem ele me falta um pedaço.
No amor de um, há uma falta.
No amor do outro, há o bastante.
No amor de um, tudo exalta.
No amor de outro, o inconstante.
Um é tudo que tenho e quero.
O outro é tudo que quero e não posso.
Um me dá tudo aquilo que espero.
Já no outro nada é nosso.
E o que me corrói indecisa
É tudo o que sente o coração.
Um eu sei que de mim muito precisa,
Mas do outro eu não quero abrir mão.
Sou uma bomba sem rumo lançada no ar
Ao fatal mergulho profundo
Que antes de explodir, ter que se perguntar:
- Qual dos dois destruir o seu mundo?