Sob o legado de Camões

O coração do poeta já foi ponte,
tentando inutilmente a ligação, sem dor,
da festiva esperança
com o silêncio abismal do desamor....

Já escreveu mil poemas de amor,
já fez serenatas por amor,
já tomou porres por amor...

Cansado de corroer a sua alma
com esse gostoso - mas insidioso – veneno vivente,
decidiu, um dia, que na sua vida teria tempo de calma!
Severo, olhou-se num espelho que impiedosamente
mostrava as suas rugas de amor, de falta de paz,
e, solene, decretou: “Amar, nunca mais!”

E viveu sem sobressaltos realmente um tempo de paz...
Mas um dia (quando foi?), dois olhos apaixonantes
lhe enviaram promessas de fugaz,
talvez, mas novo cálice de prazeres dilacerantes...
Nem hesitou: retomou o seu fado
de cantar a ilusão de amor. Poeta impenitente!...
Seu louco coração, que já estava quase sossegado,
volta a viver seu "contentamento descontente"...


 
Santiago Cabral
Enviado por Santiago Cabral em 01/09/2006
Reeditado em 05/05/2015
Código do texto: T230328
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