Chapéu-Virado, 21 de janeiro de 1836

Piso este solo sagrado,

onde sou apenas remanescente

dos que tombaram, heróis sidos,

mortos que caminham hoje

nas sendas da memória

de quem os reverencia.

É dia 21 de janeiro de 1836:

balas chispando o espaço

do que seria o futuro Chapéu-Virado,

alvejando as tropas em conflito

e chacoalhando meus neurônios,

excitando-os em sinapses imaginárias...

... e legalistas tombando,

cabanos tombando

e se levantando agora,

no momento em que reescrevo

suas trágicas histórias,

libertando-as do apagamento

a que o ostracismo condenou.

Os canhões trovoam, mesclados

ao som do arrebentar dos vagalhões

ali na beira da praia...

Uma praça, uma igreja, um caramanchão...

Um prédio de um antigo hotel...

O edifício Lílian Lúcia...

O chalé Porto Franco...

A orla, as farmácias, as barracas...

Banhistas, passantes, carros,

motos e bicicletas habitam este solo

em fronteira com a praia do Farol.

Os heróis tombam no combate,

clamam, num ganido candente:

-- Quem se lembra de nós, que lutamos desigualmente

por um punhado de menos desigualdades?!...

Um grito inaudível ecoa em minha mente...