UM DIA... UMA SURPRESA!
Era um dia de sol, no meio da tarde. Solange se dirigia ao trabalho – uma multinacional na zona sul – onde ocupava o cargo de Relações Públicas. Gostava de seu trabalho. Era falante, sabia expressar-se bem, inteligente e bonita.
Parou em um dos sinais da Avenida Rebouças, o tráfego pesado, como sempre. Ligou o som - ajudava a suportar a espera até que a imensa fila de carros se movimentasse.
Sexta feira. Dia lindo, sem nuvens no céu. Espreguiçou, demoradamente, como se esse gesto lhe tirasse o peso da responsabilidade dos ombros. E afugentasse a saudade.
Quanto tempo faz? Dez...Doze anos... Não, quinze, para ser mais exata. Quinze longos anos sem vê-lo. Cinco anos de amor intenso, paixão avassaladora que lhe tirava o ar, quando se encontravam. E o final jamais ficou claro.
Sinal verde, a fila de carros começou a movimentar-se. E seus pensamentos deram lugar à atenção ao volante. Precisava chegar logo ao trabalho, saíra apenas para almoçar e participar de uma reunião na filial.
Mais um sinal fechado. A paciência estava se esgotando. Ao lado, parou um automóvel preto, de luxo. Os vidros escuros impediam-na de avistar o condutor. O tráfego por ali estava cada vez mais intenso. Parado mesmo.
O vidro escuro, ao lado do passageiro, abriu-se, lentamente e ela ouviu alguém gritar pelo seu nome.
- Esta voz não me é estranha, pensou. Teve um pouco de receio, mas abaixou o seu vidro, por pura curiosidade – e para matar o tempo porque a espera era longa. Não acreditou no que seus olhos viram! Quase perdera o fôlego.
- Você? Não posso acreditar... De onde você surgiu?
- Eu estava bem atrás de você, desde o primeiro sinal fechado. Chamei-lhe, mas você não me ouviu, estava distraída. Ali à nossa frente, há o estacionamento de um hipermercado. Estacione lá, para conversarmos!
Ela quase surtou! A última coisa em que pensara neste belo dia de sol, no meio do tráfego impossível, era encontrar o seu antigo amor, a sua paixão mais marcante! Quando, enfim, abriu-se o sinal, ela entrou no estacionamento; ele logo atrás. Desceram de seus respectivos veículos e, sem nada dizerem um ao outro, abraçaram-se, demoradamente.
- Paulo, meu amor, há quanto tempo, dizia, entre lágrimas e beijos. Ele, entre a emoção e a surpresa, não conseguia balbuciar nem uma palavra.
Saíram dali, apressadamente, e dirigiram-se ao apartamento dela, que há muito não sentia aquela presença tão amada. Logo na entrada, foram se despindo de suas roupas, para afogarem, em muito amor, a saudade há tanto tempo retida.
O trabalho, o relatório da reunião, onde passara quase todo o dia? Aquilo não tinha a menor importância, neste dia lindo de sol.
O seu amor estava de volta.
Este texto faz parte do Exercício Criativo
"Um Dia..."
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