TESTAMENTO
Se eu me for agora ou daqui a pouco tempo,
Quero que todos saibam que não morri realizado,
Não que me julgue culpado, mas que não vejo minha missão findada.
Quero que saibam que me entristeço por ter amado com medo,
De ter tido a carne corrompida em pecado,
De não ter perdoado meu primo e todos os outros,
De não ter visto a praia com minha filha,
De não ter ensinado a arte de Caissa para ela.
Dentre minhas tristezas estão a pouca feitura a quem muito merecia,
De nada me custava ter postos os azulejos em sua cozinha,
De pouco me custava levá-la para passear mais,
Mas eu nasci assim, ou me tornei assim, egoísta.
A vida não me ensinou! Mas não acho que ela tenha essa obrigação.
Eu sempre conseguia o que queria e me sentia muito bem até certo ponto, mas...
A partir desse ponto eu comecei a passar longe desse estado de espírito,
E excetuando momentos isolados, eu era uma pessoa triste,
Que no seu melhor dia fingia ser feliz.
Dessa forma, testifico então, que não deixo meus bens para ninguém,
Pois é de meu gosto que eles sejam enterrados comigo,
Portanto, ponham no meu caixão tudo que a mim pertence, ou seja,
Meu ego, minha grosseria, minhas mentiras e todo meu narcisismo!