Avenida
A avenida está cheia de ruídos e pessoas inquietas.
Meus olhos também estão inquietos.
Aqui parece que não se faz silêncio nunca.
O farol abre, fecha. As nuvens passam despercebidas. (Não fossem as enchentes, as chuvas também passariam) O rio correndo lá fora, bem longe daqui, quieto, bonito, livre. As pessoas fingindo não sentir falta, nem inveja. O sol nascendo, se pondo, nascendo se pondo. Ninguém vê. O coração batendo, parando, batendo, parando. Agora é Deus quem passa despercebido.
Na avenida homens caminham apressados, visivelmente incompletos , em direção aos seus destinos, cada um buscando garantir o seu futuro. Um quer ser feliz, outro seguro. Todos parecem hesitar, mas ninguém fala.
Homens de pele seca, de pernas desalinhadas, de corpos pesados, alguns pensando em seus sonhos, outros esquecendo...esquecendo...
eu noto rostos quentes, bocas frias, sorridentes mas estranhas, parecendo disfarçar uma distorcida quentura advinda da alma. Por que tamanha necessidade de sentir-se tão distante de si ?
Eu noto as pessoas e, quase sem querer, eu me projeto nelas...
Estamos "cheios" de ruídos e avenidas inquietas.