Poesia de Bolso 46 ( Modus Vivendi )
MODUS VIVENDI
Li sem espanto a notícia
Do massacre das crianças
Que dormiam na calçada.
E chorei de me dar pena
Pela dureza dos olhos
Ante a chacina estampada.
Fizeram de mim o avesso
Dessa gente que às avessas
Vive entre o espanto e o medo?
Como posso estar sereno
Vendo a nau dos afogados
Sobre a tormenta do asfalto?
Não quero mais essa calma,
Enquanto a fome ordinária
Rói os últimos escombros
De minha civilidade.
( Hoje, ao olhar-me no espelho
Vi um macaco assustado... ).
Por respeitável silêncio
Morre de tédio o poeta
Que se dane a poesia
Se longe das fomes do mundo!